sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Unha e Carne

O sangue se une em manchas rosadas sob a pele pálida, alguns pontos vermelhos deixam as cores ainda mais contrastantes. Alguns poucos milímetros de pele estão partidos, mas a maior parte do machucado, se assim se pode chamar, é interno.

Talvez você esteja se perguntando que acidente causou tão belo, ao menos para mim, espetáculo. Que objeto fez tão sutil, porém dolorido, estrago. Que pessoa causou tal ferimento estúpido. Pare com essas perguntas tolas, querido leitor. Não foi acidente, nem mesmo objeto, tão pouco outra pessoa. Foram minhas unhas mal feitas que deslizaram freneticamente sobre minha pele pálida, em um transe irado, procurando o alívio para as dores da alma.

Alívio, que ironia! Foi por esse maldito alívio que agora me escapa, que tentei rasgar minha pele. E que me perdoe a autopiedade, caro leitor, mas essas unhas nem para me rasgar a pele têm servido!

A mancha avermelhada ainda continua, o calor do sangue concentrado se une ao ardor da pele depois do atrito, faz minutos que as unhas por aqui passaram e, ainda sinto o calor delas. É estranho, confortante confesso, mas ainda assim estranho.

Unido ao calor, ao ardor, à estranheza e ao conforto, está um arrepio que passa pelos braços, pelas costelas, mas não alcança a espinha. Do arrepio, como das outras sensações, eu sei a causa, o ato da escrita sempre me causa esse mesmo arrepio.

O rosto mantém aquela sensação de líquido secando sobre a face, tal qual o gozo masculino na pele, apenas mais líquido. Os olhos, pesados, retém resquícios das lágrimas que já caíram.

O pouco conforto do calor vai sumindo, quando as novas lágrimas começam a cair, mais uma vez minhas unhas insistem em raspar-me a pele, mas meus dedos, ocupados demais em digitar a mensagem não lhes permite isso e, cada vez mais frenéticos passam sobre o teclado. O frenesi não só cria palavras, mas também uma quase melodia tecnológica. Deixam então o teclado e passam aos números do telefone, desocupam se ao último número e a voz do outro lado mais a falta de ocupação das mãos, faz com que novamente as unhas desejem a pele.

Estranho observar como o ódio sufoca a tristeza, e vice-versa. Chego a pensar que o ser humano não consegue sentir duas emoções ao mesmo tempo, pois quando choro não consigo sentir ódio e, quando falo coisas que não deveria dizer mais me prendem a garganta não consigo sentir a tristeza. Assim vão, ódio e tristeza de mãos dadas, porém um por vez toma a frente e, assim minhas ações vão sendo ora baseadas no ódio, ora na tristeza.

 
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